Quem vê a foto do empresário João Bastos na capa da principal revista do segmento da
construção civil, não imagina os dilemas que este empresário bem sucedido e sua família
vivem na intimidade.
Tudo que ele e sua esposa Silvana conquistaram do zero, há mais de 30 anos, hoje é
administrado com competência pelos dois filhos mais velhos, Pedro e Ana.
Nesta entrevista sobre governança empresarial, ela fala com orgulho do encaminhamento que deu para os filhos, mas o sentimento de alegria é varrido de seus pensamentos ao lembrar do caçula.
O talentoso Lucas, hoje com 20 anos, enfrenta sérios problemas com o uso de entorpecentes. Começou na adolescência, influenciado por amigos e foi se afundando cada vez mais, demonstrando sua revolta com as expectativas familiares.
Recentemente, a situação de Lucas atingiu um novo patamar de crise. Ele acumulou uma
dívida significativa com um traficante local, que passou a ameaçar a sua segurança e a da
família. Para aliviar a situação, a mãe decidiu vender um imóvel pertencente à holding familiar, sacrificando um patrimônio significativo para quitar parte das dívidas de Lucas e proteger a família de consequências mais graves.
A decisão de Silvana em vender o imóvel gerou repercussões profundas dentro da família e da empresa. O senhor João está preocupado com o impacto financeiro e reputacional dessa transação, enquanto Pedro e Ana estão divididos entre o desejo de apoiar o irmão mais novo e a responsabilidade de garantir a estabilidade dos negócios. Sentimentos contraditórios vão deixando a comunicação entre os familiares mais truncada e tensa a cada nova tentativa de diálogo.
O comportamento instável de Lucas tem sido uma fonte constante de tensão e conflito dentro da dinâmica familiar e empresarial. Sua ausência em eventos importantes da empresa e sua incapacidade de contribuir de maneira consistente têm afetado negativamente a eficiência e a coesão da equipe de trabalho.
Em casos assim, é recorrente a ideia de intervir, encaminhando o dependente para uma
internação em uma clínica ou comunidade especializada em processo de desintoxicação, que pode durar muitos meses.
Mas antes de se tomar este caminho, dois fatores devem ser levados em conta: o dependente deseja aderir a este tipo de tratamento? Se não for de sua vontade, nada feito.
Em segundo lugar, mas não menos importante: os integrantes do círculo familiar estão cientes de seus comportamentos co-dependentes que contribuem para a manutenção do caçula da família no vício?
Ambas são perguntas difíceis que precisam ser respondidas com sinceridade antes de se optar por uma linha terapêutica.
Para ajudar Lucas e a família a entender os elementos que desencadeiam essas crises, vale considerar abordagens psicológicas como:
Terapia Narrativa de Sessão Única: funciona como um ponto de partida, ajudando a desfazer algumas resistências e a localizar onde está o desejo de Lucas nesta jornada de recuperação.
Ao longo de uma hora e meia de duração, o profissional desenvolve uma conversa na qual se identifica qual é o problema, se esclarece os efeitos dele e se busca histórias de recursos, construindo possibilidades futuras.
Terapia Familiar Sistêmica: considerando o impacto do problema de Lucas em toda a família, a terapia familiar sistêmica pode ser crucial. Essa abordagem visa melhorar a comunicação, promover a compreensão mútua e identificar dinâmicas familiares disfuncionais que possam contribuir para o problema de Lucas.
Uma vez entendida a causa raiz do problema e iniciado o acompanhamento com psiquiatra para desintoxicação, a jornada pode continuar com a ressignificação em nível individual e também em grupo. Entre as técnicas existentes, as que apresentam mais evidências de efetividade são:
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): A TCC é amplamente reconhecida por sua eficácia no tratamento de transtornos relacionados ao uso de substâncias. Ela foca na modificação de pensamentos disfuncionais e comportamentos de risco, ajudando Lucas a desenvolver habilidades para resistir às pressões do ambiente e lidar com gatilhos de uso de drogas. Grupos de Apoio e Autoajuda: Envolvimento em grupos como Narcóticos Anônimos (NA) pode oferecer a Lucas uma rede apoio social contínua, compartilhamento de experiências com outros indivíduos em recuperação e um ambiente de suporte que complementa o tratamento psicológico formal.
Minha leitura: existem muitos caminhos terapêuticos para auxiliar Lucas e sua família. Mas uma crise destas dimensões demanda que se faça uma parada para lembrar do que é essencial, aquilo que tornou possível a edificação deste negócio. Com a disciplina de um grupo que empreende um planejamento estratégico, reimaginem o propósito fundamental da empresa.
Assim vocês poderão juntos criar a visão de novos futuros que incluam a próxima geração.
Agora é com você: como Líder que Cura, com qual dos integrantes desta história você mais se identificou? Que atitude você tomaria entre as várias opções possíveis para ajudar a sua família empresária?
Joice Sabatke escreve a partir de uma sólida formação nas áreas de Jornalismo, Psicologia, Marketing, Direção de Empresas e a experiência de uma vida inteira no grupo de empresas de sua família e outras empresas familiares com as quais colabora.
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